domingo, 17 de abril de 2016

RESUMO DAS COMUNICAÇÕES DO I ENCONTRO DE CRÍTICA E TRADUÇÃO DO EXÍLIO



A PROPOSTA HUMANISTA DE EDWARD SAID

Luiza Beltrão Moraes (G/UFG)
Orientadora: Profª Drª Tarsilla Couto de Brito (D/UFG)

Após a reorganização do mapa geopolítico em decorrência da Guerra Fria, as diversidades culturais se acentuaram, provocando o que conhecemos por Guerras Culturais.
O caótico cenário do século passado foi palco para o Imperialismo Cultural, isto é, a influência geopolítica de um país sobre a cultura de outro. A cultura dominante exerce sua hegemonia sobre a cultura que tem poucas possibilidades de crescimento.
Diante da hierarquia cultural, marcada por diversos fatores, (políticos, econômicos e ideológicos) estabelece-se a cultura do dominante como a aquela que se deve seguir, na medida, cânone. Desta maneira, as culturas dominadas acabaram por serem suprimidas e marginalizadas, afetando a própria formação narrativa das identidades do colonizado.
A “construção” do preconceito acaba por excluir aqueles que têm sua formação cultural marginalizada, ou seja, exilando-o. Este exílio acontece aos que estão “fora do seu lugar”, que não é dominado por uma única verdade, que não se enxerga em um único contexto.
A fragmentação do ser humano que o levou a diferentes formas de exílio é apontada por Said como uma crescente complexidade e a busca para que se entenda a coexistência de todas as imagens culturais norteadas pela dialética.
O Humanismo democrático não basta com verdades prontas, mas antes tem como sustentáculo o ideal de entrelugar, este espaço que não permite maniqueísmos e preza pelo diálogo do que se tem por “verdades”, a fim de se alcançar o ideal democrático.
A partir de uma recriação identitária, os exilados só conseguem a resignificação do seu lugar neste “entrelugar”, quando desenvolve uma consciência dialogante a fim de recriar sua subjetividade, a partir da descontinuidade que caracteriza o exílio.
Said aponta que cabe ao Humanismo Democrático desenvolver uma crítica opositora ao eurocentrismo, na medida em que este substitui o humanismo cosmopolita.
Humanismo e Crítica Democrática é uma obra resultante de conferências proferidas nas Universidades de Columbia e de Cambridge, pelo crítico literário e cultural Edward Wadie Said, que vai de encontro à ideia de um Humanismo impessoal e canônico. Nega-o como projeto cultural, filosófico e também como um conjunto de ideias, posicionando-se favorável de que o Humanismo é, antes de tudo, uma prática: é a realização da forma pela vontade e ações humanas, como afirma o próprio autor. Por isto a negação do ideal de um cânone, porque essencialmente o Humanismo tem por base compreender a história humana, demonstrando seus processos de auto-realização e compreensão, não se limitando a uma classe dominante minoritária. E é tendo esse caráter de “revisão” que o Humanismo encontra na linguagem meios para reinterpretar e reformular a história, tal como compreender a cultura. Necessário para que este não se torne um instrumento de opressão, enquanto deveria ser uma prática que trouxesse autonomia e liberdade.
Devemos debruçar uma atenção especial, segundo Said, sobre a linguagem, haja vista que é a linguagem a mediadora de nossas experiências de realidade. E por isso precisaríamos ainda e tanto da filologia, pois somente através da leitura originaremos uma receptividade crítica, condutora aos ideais emancipatórios, que se tornarão resistência frente às inúmeras notícias vinculadas por meios de comunicação com ideologias diversas, dos quais tomamos contato via globalização.
Desta maneira, a reflexão humanista não deve se ater ao formato curto, aos recortes descontextualizados, mas conduzir a reflexões mais profundas e questionadoras sobre os eventos de maneira geral.
O autor aponta o filólogo Auerbach como exemplo de humanista, postulando que este acredita nas transformações dinâmicas, bem como nas sedimentações profundas da história. Faz uma leitura detalhada de Mimesis chamando a atenção para as perspectivas em desenvolvimento, a partir de um ponto de vista local e universal, no que se refere as associações realistas da obra.
Said termina por defender que a história não está terminada e que é no inconstante espaço de uma arte que os intelectuais não podem ficar, mas que somente ali encontrarão razões para continuar.
Edward Said retoma o ideal de Humanismo e expõe, de forma a demonstrar com suas experiências empíricas, inclusive com esta retomada, que o verdadeiro lugar do intelectual é no exílio, para que este não reproduza as “verdades cânones” e não suprima as demais, de maneira a ressignificar-se dialeticamente, assim como as vítimas do imperialismo cultural necessitaram fazer.

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