A PROPOSTA HUMANISTA DE EDWARD SAID
Luiza Beltrão Moraes (G/UFG)
Orientadora: Profª Drª
Tarsilla Couto de Brito (D/UFG)
Após a reorganização do
mapa geopolítico em decorrência da Guerra Fria, as diversidades culturais se
acentuaram, provocando o que conhecemos por Guerras Culturais.
O caótico cenário do
século passado foi palco para o Imperialismo Cultural, isto é, a influência
geopolítica de um país sobre a cultura de outro. A cultura dominante exerce sua
hegemonia sobre a cultura que tem poucas possibilidades de crescimento.
Diante da hierarquia
cultural, marcada por diversos fatores, (políticos, econômicos e ideológicos)
estabelece-se a cultura do dominante como a aquela que se deve seguir, na
medida, cânone. Desta maneira, as culturas dominadas acabaram por serem
suprimidas e marginalizadas, afetando a própria formação narrativa das
identidades do colonizado.
A “construção” do
preconceito acaba por excluir aqueles que têm sua formação cultural
marginalizada, ou seja, exilando-o. Este exílio acontece aos que estão “fora do
seu lugar”, que não é dominado por uma única verdade, que não se enxerga em um
único contexto.
A fragmentação do ser
humano que o levou a diferentes formas de exílio é apontada por Said como uma
crescente complexidade e a busca para que se entenda a coexistência de todas as
imagens culturais norteadas pela dialética.
O Humanismo democrático
não basta com verdades prontas, mas antes tem como sustentáculo o ideal de entrelugar, este espaço que não permite
maniqueísmos e preza pelo diálogo do que se tem por “verdades”,
a fim de se alcançar o ideal democrático.
A partir de uma
recriação identitária, os exilados só conseguem a resignificação do seu lugar
neste “entrelugar”, quando desenvolve uma consciência dialogante a fim de
recriar sua subjetividade, a partir da descontinuidade que caracteriza o
exílio.
Said aponta que cabe ao
Humanismo Democrático desenvolver uma crítica opositora ao eurocentrismo, na
medida em que este substitui o humanismo cosmopolita.
Humanismo e Crítica
Democrática é uma obra resultante de conferências proferidas nas Universidades
de Columbia e de Cambridge, pelo crítico literário e cultural Edward Wadie
Said, que vai de encontro à ideia de um Humanismo impessoal e canônico. Nega-o
como projeto cultural, filosófico e também como um conjunto de ideias, posicionando-se
favorável de que o Humanismo é, antes de tudo, uma prática: é a realização da
forma pela vontade e ações humanas, como afirma o próprio autor. Por isto a
negação do ideal de um cânone, porque essencialmente o Humanismo tem por base
compreender a história humana, demonstrando seus processos de auto-realização e
compreensão, não se limitando a uma classe dominante minoritária. E é tendo
esse caráter de “revisão” que o Humanismo encontra na linguagem meios para reinterpretar
e reformular a história, tal como compreender a cultura. Necessário para que
este não se torne um instrumento de opressão, enquanto deveria ser uma prática
que trouxesse autonomia e liberdade.
Devemos debruçar uma
atenção especial, segundo Said, sobre a linguagem, haja vista que é a linguagem
a mediadora de nossas experiências de realidade. E por isso precisaríamos ainda
e tanto da filologia, pois somente através da leitura originaremos uma
receptividade crítica, condutora aos ideais emancipatórios, que se tornarão
resistência frente às inúmeras notícias vinculadas por meios de comunicação com
ideologias diversas, dos quais tomamos contato via globalização.
Desta maneira, a
reflexão humanista não deve se ater ao formato curto, aos recortes descontextualizados,
mas conduzir a reflexões mais profundas e questionadoras sobre os eventos de
maneira geral.
O
autor aponta o filólogo Auerbach como exemplo de humanista, postulando que este
acredita nas transformações dinâmicas, bem como nas sedimentações profundas da
história. Faz uma leitura detalhada de Mimesis chamando a atenção para as
perspectivas em desenvolvimento, a partir de um ponto de vista local e
universal, no que se refere as associações realistas da obra.
Said termina por
defender que a história não está terminada e que é no inconstante espaço de uma
arte que os intelectuais não podem ficar, mas que somente ali encontrarão
razões para continuar.
Edward Said retoma o
ideal de Humanismo e expõe, de forma a demonstrar com suas experiências
empíricas, inclusive com esta retomada, que o verdadeiro lugar do intelectual é
no exílio, para que este não reproduza as “verdades cânones” e não suprima as
demais, de maneira a ressignificar-se dialeticamente, assim como as vítimas do
imperialismo cultural necessitaram fazer.
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